Diretor: Matt Vancil
Ano: 2002
Roteirista: Matt Vancil
Gênero: Comedia, Curta, Aventura
Analise por: Kitsune
Cinco amigos (ou seis ?) se reúnem para jogar RPG (Role-Playing Game). Essa galerinha do barulho vai se meter em várias confusões e se aventurar para descobrir incríveis segredos!
Como deu pra perceber, dei uma leve incorporada no narrador da Seção da Tarde, só pra não deixar a sinopse muito pequena.
Já aviso de antemão: se você não tem um mínimo de interesse por RPG, nem leia o review. Se nem souber o que é, vá descobrir; mas também não leia o review agora, quanto menos veja o filme. Deixe pra depois que estiver jogando. Ah, e saiba que RPG é coisa do demônio e envolve rituais satânicos, sacrifícios humanos e sexo sem proteção (!)... NOT.
Muito bem.
O plot é exatamente esse: os quatro/ cinco jogadores e o mestre se reúnem e continuam a sua campanha de onde haviam parado. Logo de cara é possível notar que a intenção é reunir todo o lugar-comum de D&D: a taverna, o resgate à Princesa, a organização do mal, o castelo, ruínas e dungeons. Depois, vemos os jogadores-modelo: o advogado das regras (que enfrenta as decisões do mestre), o nonsense (que não se importa em correr riscos ao tentar tirar a cadeira de baixo um grandalhão sem que ele perceba; mesmo que só possa tirar 20 no teste), o matemático (que calcula as chances percentuais de sucesso, focando-se estritamente nos atributos do personagem), entre outros. Todos esses conceitos estão misturados uns aos outros e espalhados entre cada jogador, bem como na realidade.
Okay, como era previsível, o grupo de personagens é feijão-com-arroz das histórias medievais: guerreiro (que não é anão, convenhamos que seria trabalhoso demais fazer isso), bárbaro, mago, elfo arqueiro, curandeiro e ladrão. Destaque para o último, que foi bem aproveitado.
Acho necessário frisar como os personagens ficaram mais carismáticos que os jogadores...; Quem já jogou RPG sabe (ou tem uma noção) de como essa mecânica funciona: ou os jogadores são engraçadinhos e empolgados, portanto sempre distraídos, e os personagens são sem graça; ou aqueles são mornos, mas por isso imergem no jogo e interpretação, sendo capazes de reproduzir personalidades mais sólidas (mesmo que sejam clichês). O que não os impede, contudo, de festejar aquele 20 no dado.
Ou seja, a composição ficou boa. Embora as atuações das pessoas pudessem ter sido melhores, não chega perto da canastrice à la Malhação, sempre aludida pelo Cruor.
Em termos de narração, há duas seções. Os jogadores fazendo as suas decisões conforme o mestre conta a história, e do outro lado os personagens, no mundo fictício. A coisa flui de forma boa, não há exagero no timing de nenhuma das partes. Você não verá o jogador fazendo ou dizendo cada mínima decisão. O ritmo é bom e dinâmico.
O humor não agrada a todos, óbvio. De 10 nerds ou pessoas relacionadas ao meio, arrisco dizer que metade gostaria.
Há ocorrência tanto das cotidianas “cagadas” de jogatina (como quando um fracote consegue fazer algo que um ogro não conseguiu, devido a sorte nos dados), quanto do humor extrapolado, como é o caso da baba e da câmera seguindo a flecha (favor assistir, se quiser entender do que estou falando). Nada de piadas extremamente bobas (agradeçamos ao fato de a língua inglesa não permitir uso da piada do Criado-mudo), nada de Zorra Total. Não que exista algum pioneirismo ou genialidade. Diria que é até previsível.
As cenas de luta são aquilo que se espera de um filme de YouTube... Mas eu notei um certo esforço por parte de todos, para evitar a repetição de golpes e estratégias de combate. Ainda assim, temos aquela “clássica” espada atravessando o ator pelas axilas e todo tipo de tosquice possível. Inclusive coisas mal-feitas, como socos que não passam nem perto do alvo (algo que poderia ter sido corrigido com a câmera filmando em outro ângulo – era só repetir a cena –). Ou seja, houve sim um pouco de negligência o preguiça. Por outro lado, penso que ocorreu um trabalho de planejamento bom, comparado ao nível geral do filme. Digamos que não ficou criativo (e engraçaralho) como uma cena típica de filme indiano, nem com a qualidade e “irreal-realismo” a que estamos acostumados por Hollywood.
Puxando das cenas de ação, temos o Berserk (e não vou soltar mais do que isso de spoiler, calma), percebi que puseram uma música com a intenção de passar a idéia de “nossa, olha só que épico”. Não deu certo – a cena nem teve a velocidade que exigia –. A trilha sonora é água com açúcar: não empolga, não incomoda. Mas evita o silêncio, então posso dizer que poderia ser pior (de fato, avalio no quesito como algo entre comum e razoável). Há um lado bom: o de que a trilha não atrapalha. Eles têm a noção de como mudá-la, de situação para situação, de forma a colaborar com o humor. Temos uma luta, então toca algo aventuresco; corta para algo fora desse tom, a música acompanha. De modo que eles não compuseram a nona sinfonia, mas saberiam como e quando pô-la lá. Só que eles não tinham a nona sinfonia, então...
Por fim, digo que acho uma pena o grupo ter se apoiado na comédia, quando o forte deles poderia ter sido qualquer outra coisa, com um pouco mais de esforço. Esse tipo de filme já é restrito a fãs de RPG; não bastasse isso, restringe-se mais ainda, não agradando àqueles de risadas mais exigentes.
Talvez devessem ter se concentrado em melhorar esta parte, mas não aconteceu (espero que não; mas se aconteceu, então baixarei minhas expectativas para o segundo filme – embora vá assisti-lo com certeza –).
The Gamers é um filme curto e de orçamento baixíssimo, mas tem seu valor. Se você gosta de RPG e/ ou aventura medieval, dê uma chance. Se você curte Monty Python, pense como uma versão menos talentosa no quesito elenco/comédia.
Nota: 5,8
*Nota extra do Bordoada, o filme esta disponível para assistir online no site da produtora:
http://deadgentlemen.com/
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
The Gamers
Postado por Carlão às 01:39
Marcadores: -Colaboradores, Análises, Cinema
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6 comentários:
...é a produção é uma tosquice só, mas eu penso que eles conseguiram o que eu penso que era o principal, transmitir uma sessão de rpg...fazer uma história com isso...e ficou engraçado, pra quem entende...e conhece RPG (não reeducação da postura global).
A história é clichesona de sessão rpg...
...mas pouxa, comparar com MOnty Python? Ou mesmo analisar de uma forma tão séria uma produção tão tosca....isso foi um massacre.
RPG rulz! Eu acho que, por mais tosqueira que seja, é válido para fãs de RPG, principalmente de D&D, que tantas boas histórias rende, mesmo sendo aquele clichêzão...
Pois é, Leandro, eu me perguntei se deveria ter sido tão sério. A nota também não me agradou, mas ela foi resultado de uma média de várias outras...
Mas pensei assim: ou eu analiso todos os filmes seriamente, ou pego leve com todos. Se pegar leve só com os que precisam, vai parecer que eu não acho nenhum filme ruim (o que não é verdade). Ou corro o risco de passar um filme ruim, como um filme aceitável, no futuro.
E bem, The Gamers pode ser visto tanto quanto um Filme (que deve ser o melhor possível no que pretende), ou como um Vídeo do YouTube ("nas coxa").
Não caberia falar sobre um vídeo do YouTube no Bordoada. Mas sobre um filme, sim.
Quanto à comparação com Monty Python, ela decorreu da influência que eu enxerguei no humor deles. Me parece interessante comparar os fodas com os fraquinhos, pois assim quem lê a análise já tem uma ideia do que vem pela frente.
E não é cruel, essa comparação com MP. Tá mais pra lisonjeio.
....eu não discordo da nota, nem de muitos comentário....
...o lance de levar a sério foi o seguinte, analisar as cenas de combate como se fosse uma grande produção, os caras que fizeram não estavam nem aí pra fazer cenas de combate fodonas...nem qualquer outro efeito....é uma produção escrachada mesmo....aí rolo uns ocmentários como se isso fosse parte ruim, pelo menos eu entendi assim, como se tivesse avaliando uma produção de Hollywood, aí apareceu um erro numa cena de combate (vide matrix 2 qdo o Neo luta com o bastão contra os milhares de Smith)....o que não seria o caso pois os caras não tinham tecnologia e fizeram pra avacalhar mesmo...
...não sei se conseguir me fazer entender, mas é que acho essas coisas dispensáveis na análise....seria como julgar a cena de luta do Rei Arthur contra o cavaleiro Negro....é mal feita, mas eles nem queriam faze-la bem feita mesmo....
Acho que entendi o que tu quis dizer.
Bom, eu não acho que eles não deram a mínima pras cenas de combate. Como comentei, inclusive houve uma preocupação com a composição: aproveitaram bem a personalidade de cada personagem; uns se escondendo, ou atacando por cima, outros só dando porrada... Enfim, não quiseram repetir as estratégias de combate.
E com toda essa preparação, o cara vai lá e dá um soco a uns dois metros do rosto do fulano, e o fulano cai... Pô, era só ter gravado com a câmera melhor posicionada. Não precisa de tecnologia de ponta pra isso.
Se eu visse algo desse tipo numa produção de Hollywood, pqp, ai sim, ia sentar o cacete. Mas eu não sou muito atento, então ainda assim existe a chance de nem ver uns e outros erros.
Além disso, fiz questão de não comentar nada sobre os "efeitos especiais" do filme. Se procurar, vai encontrar um pessoal falando disso. Acho que ai sim, seria pegar pesado.
Quanto a cena do Cavaleiro Negro, é um bom exemplo. Eu assisti essa parte do filme do Cálice Sagrado me mijando de rir... Por que passou a sensação de que foi tudo mal-feito de propósito (a atitude dessa cena seria "vamos fazer extremamente mal-feito!"). Já no caso do The Gamers, a sensação que passou foi de preguiça, tipo "ah, tá bom assim, vamos fazer a próxima parte de uma vez!".
Embora, acredito que boa parte das pessoas não tenham pensado como eu.
Mas resumindo, no fundo, o que eu critiquei não foi a parte escrachada da cena (essa parte está ótima). Mas sim a atitude com que a cena pareceu ter sido feita.
O pessoal do Monty Python provavelmente refaria a cena do Cavaleiro Negro, se não tivesse ficado boa (ou passam essa ideia). Quanto à equipa do The Gamers, tenho minhas dúvidas.
...preguiça ou fizeram de qualquer jeito...mas eu entendo que esse não era o foco deles...e as estratégias de combate...puramente o que acontece numa sessão de RPG, não foi pra deixar ninguém atento ou agradar sei la quem....a maioria das coisas nas cenas de combate se parecem com uma sessão de rpg...igual o Mark que fica em qualquer lugar e ninguém da bola...tipo personagem do cara que não aparece e o Mestre nem faz os npcs atacarem ele, aí pode ficar em qualquer lugar mesmo abandonado...
...na minha visão tudo foi proposital pra parecer uma sessão de rpg...desde o exagero na taverna onde uma balista explode seu alvo, simplesmente por fazer 264 de dano...até o soco dado no mago que o faz voar muito alto.
....e tudo era mal feito nas cenas de combate, tanto que a maioria era cortado...igual a cena do Mark, só mostra as pessoas no chão depois...
...eu acho que essas críticas foram pesadas com o filme.
E a comparação com o Monty é só na cena de combate mesmo...pois as piadas de MOnty Pyton são milhões de anos luz melhores que toda piadinha do filme...por isso o the gamers nem merece essa comparação.
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